Relatos sobre a Semana da Consciência Negra
Neste ano de 2022, tivemos uma celebração da Semana Nacional da Consciência Negra intensa e com atividades variadas. Contamos com uma Comissão Organizadora bastante comprometida com a estruturação e efetividade das atividades. Fizemos reuniões preparatórias, dividimos tarefas e assim trouxemos diversas sugestões de atividades: cine-debates, oficinas de mankalas (jogos africanos), oficina de grafismo africanos com pigmentação natural, palestras, roda de conversa, além das contribuições dos(as) colegas em sala de aula, buscando a partir do seu componente curricular trazer os saberes e conhecimentos de personalidades negras e suas contribuições nas disciplinas ministradas
A equipe organizadora (Comissão) foi composta por: Marival Baldoino de Santana (Presidente), Luciana Jatobá, Henrique Okajima Nakamoto, Mauro Sala, Marília Souza, Jeferson Anibal Gonzalez, William César Santos Ramalho, Mariana de Resende Damas Cardoso Miguel, Ana Paula Rodrigues Magalhães de Barros. Tivemos como preocupação: trazer para nossos estudantes atividades que não os colocassem como meramente de expectadores, mas ações que proporcionassem para além de um pensar consciente sobre as questões referentes à população negra, a exemplo do racismo e do apagamento secular a que estão submetidos os negros e negras do país, buscamos também promover situações em que os estudantes pudessem criar suas próprias cosmovisões e, assim, criar uma atmosfera antirracista na escola, afinal, uma educação antirracista é o que nos motiva nessa luta inglória e recorrente que marca a história do nosso Brasil.
Criamos uma programação (vide anexa) que tentou contemplar o objetivo proposto a ser alcançado. A participação de nossos estudantes foi grande, empolgante e trouxe para eles uma riqueza ímpar, reconhecida num feedback trazido por eles nos relatórios apresentados. As diversas atividades, que ocorreram na sua maioria durante o chamado janelão (horário do almoço e do atendimento ao aluno) teve como intuito também contribuir e complementar as aulas. Iniciamos as atividades com a apresentação do curta metragem “Vista minha pele”, no dia 17/11/2022, que trouxe uma reflexão sobre o racismo vivido secularmente pelo povo preto, mas sob a ótica de uma sociedade colonizada de modo invertida. Nela, os brancos eram os discriminados, os pobres e os excluídos. Isso suscitou um debate muito interessante entre os 39 estudantes participantes. No dia 18/11/22, houve um imprevisto com a internet do campus e não pudemos apresentar o curta “O Xadrez da Cores”. Contávamos 36 estudantes. Remarcamos para semana seguinte. Dia 22/11/22, tivemos uma Roda de Conversa “Sou Negra? Educação antirracista” coordenada pela Caroline Jango, Diretora Geral do campus, a qual na sua explanação mostrou para os estudantes presentes como nosso conhecimento e nosso modo de ver o mundo está baseado numa estrutura racista, excludente e invisibilizada da população negra. Nessa atividade, o auditório estava cheio, cerca de 70 alunos compareceram. Foram unanimes em dizer que a fala da Diretora Carolina Jango mexeu muito com a forma como o mundo pode ser visto e revisto com relação ao racismo presente no dia a dia da nossa sociedade racista. A professora Luciana Jatobá e o professor Marival Baldoino, responsáveis pelo dia 23, apresentaram dois episódios da Série “Sankofa: A África que te habita”, que mostra a nossa relação direta com a África, a partir dos relatos de dois amigos que querendo entender suas histórias criam um projeto para conhecer a África e sua relação com o Brasil. Fizemos um debate muito bom com os 57 estudantes presentes no auditório. A professora Luciana falou da sua demora em se descobrir como uma mulher negra. Apesar da tonalidade clara sua pele, ela hoje percebe seus traços negroides, os aspectos fenotípicos que herdou de seus antepassados do lado materno.
Dia 24/11, conseguimos apresentar e debater o curta “O Xadrez das Cores”, que contou com a presença de 42 alunos. Tivemos, ainda, uma oficina sobre jogos africanos, coordenada pelo Prof. Henrique Nakamoto (Educação Física) e pela Prof.ª Ana Paula (Matemática) que ensinaram os jogos africanos das mankalas para suas turmas de alunos. Foi um momento de muita aprendizagem e de ensinamento sobre como o continente africano é rico em saberes e conhecimentos e que por conta do eurocentrismo uma tentativa de apagamento e a invisibilidade desses saberes foi e é uma constante na vida da população negra.
No dia 25/11/22, tivemos uma oficina de grafismo africano e estiveram presentes 30 estudantes e três participantes da comunidade externa. Essa oficina foi ministrada pelo Professor de Arte, Adelson dos Santos, servidor da rede Municipal de Educação da Prefeitura de Hortolândia. Ele, também, foi curador numa exposição de obras intitulada “Heranças da Diáspora: Brasil pequena África”, a qual foi montada na sexta da semana anterior e perdurou até a quarta da Semana da Consciência Negra. Neste mesmo dia, tivemos uma palestra com as Promotoras Legais Populares: a Psicóloga Luciana dos Santos e a Professora Mara Ester da Silva, ambas foram eleitas pela comunidade para trabalhar e desenvolver e defender mulheres em situação de vulnerabilidades. A palestra tratou do dia 25/11, Dia Internacional da Eliminação da Violência Conta a Mulher, instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas). A psicóloga Luciana usando-se de músicas sertanejas e os contos de fadas demonstrou que a partir delas, de forma velada e aceita, a violência contra as mulheres são normalizadas, vulgarizadas, naturalizadas na nossa sociedade machista. Ela explicou também os vários tipos de violências existentes, e inclusive, ela conta sua própria história de vida, marcada por uma relação tóxica com seu ex-marido e quase o seu assassino.
A semana não acabou na sexta, dia 25/11. Tivemos na quarta feira da semana seguinte, dia 30/11, uma empolgante e lúcida palestra ministrada pelo Prof. Leonardo, do campus Salto sobre as ações afirmativas, saberes e conhecimentos negros e sua importância e colaboração na formação do Brasil.
Enfim, a Semana da Consciência Negra ocorreu com brilhantismo e no tempo exato. Pudemos, ao menos, colocar na cabeça, no coração e no modo de lidar com a vida daqueles que ali participaram uma reflexão que os levasse a entender que o racismo é uma construção humana, fruto de uma relação de poder que vem dos países do Norte, os quais se consideram superiores. E que por serem e terem um poder hegemônico, colocam-se numa posição de “melhores” e querem a todo custo fazer prevalecer suas vontades e seus privilégios. Portanto, esse momento de reflexão trazido pela Semana da Consciência Negra serviu-se a todos para juntos buscarmos elementos para a demolição do racismo no nosso país, a começar por nossa escola.
Todos os registros do evento podem ser conferidos aqui: https://www.facebook.com/ifsphto/posts/pfbid02BDdDTWiqfSRBhzjqEHov5HSnVvkFGuxiF4bbYuop5TXV5cdrHDgG49nkBvu5Bgql
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